Blockchain: o novo paradigma da sociedade

Muito se ouve falar sobre Blockchain nos tempos que correm. Resolvemos colocar os nossos três Experts em Blockchain à conversa sobre o tema, para clarificar o conceito, as diferenças entre Blockchain pública e privada e a sua utilidade prática em alguns setores, como no caso da Cadeia de Valor e na Saúde.

Em primeiro lugar, importa entender que Blockchain surge como a capacidade de mudar algo incrivelmente fundamental na qual assenta a sociedade, algo que fazemos milhares de vezes por dia. A maneira como confiamos. Não só em termos de relações pessoais, mas também na maneira como conduzimos o negócio. A confiança é a pedra basilar presente nas transações, desde a época pré-histórica, à economia mercantil, passando pela sociedade industrial e à presente Idade da Informação.  A moeda fundamental para efetuar qualquer transação é a confiança estabelecida entre as partes envolvidas.  Até ao aparecimento de Blockchain, a aquisição dessa confiança era feita com a figura de um ledger (livro-razão), que guardava a informação referente a qualquer ato. No entanto, pela natureza dessa estrutura, a informação guardada pelos ledgers podia ser interferida e corrompida. Dentro dessa estrutura, é possível apagar, editar e adicionar informação sobre determinada transação. A principal vantagem do paradigma Blockchain é precisamente o facto de tornar os dados imutáveis, impossibilitando qualquer interferência com a informação. Com este paradigma, todos os eventos têm uma chave única, virtualmente impossível de hackear. Cada “bloco” contém informação que permite validar a sua ligação aos blocos anteriores, bem como o seu conteúdo. Essa dependência cria um estado atual com base no histórico de todas as transações, criando, a grosso modo, uma cadeia (chain) de informação. Estamos perante a tecnologia a criar todas as condições para que os dados sejam completamente imutáveis; a presença deste paradigma altera significativamente o modo como confiamos nas nossas transações.

O conceito de Blockchain – Pedro Martins, Senior Business Executive, Xpand IT

Apesar do projeto estar inicialmente focado na transação eletrónica de dinheiro (arquitetura Bitcoin), o conceito (Blockchain) evoluiu para outras arquiteturas e, atualmente, vai muito para além daquilo que seria expectável pois os novos modelos arquiteturais do conceito possibilitam hoje a aplicabilidade a inúmeros modelos de negócio.

Em primeiro lugar importa perceber que Blockchain não é uma tecnologia, mas sim um conceito com características estruturais específicas, que tem como core 3 pontos fundamentais: Transparência, Segurança e Imutabilidade dos dados.

Blockchain como conceito, é uma rede P2P (Peer-to-Peer) distribuída onde cada nó funciona como Cliente/Servidor sem necessidade de um sistema de controlo centralizado. Isto permite aos intervenientes a possibilidade de criar transações de uma forma direta sem necessidade de terceiras partes para validá-las, ou seja, a validação advém da confirmação da própria rede que aceita a transação, o que torna virtualmente impossível corromper ou alterar transações. Todas estas ficam registadas no ledger que no fundo é o index das transações para toda a rede.

É importante destacar que existem diversas arquiteturas Blockchain além do Bitcoin, tais como Ethereum, Hyper Ledger, Ripple, que possibilitam a aplicação do conceito a outros Business Models.

Blockchain Privada versus Pública – Francisco Correia, Project Manager, Xpand IT

Existe uma dicotomia de opções que influenciam largamente a capacidade de conceber soluções a nível empresarial que recorram a Blockchain. Falo da escolha entre a utilização de uma Blockchain pública versus privada.

No primeiro caso, procuramos beneficiar de uma infraestrutura cujos nós são de utilização pública e onde o processamento de transações tem um “incentivo” associado. Através destas redes existe uma componente adicional de anonimato associada, bem como uma replicação tipicamente maior da cadeia. No entanto, o facto de existir um custo associado a cada transação traz maior complexidade na hora de definir um modelo de negócio. O caso do token EOS é um sinal de que existe de facto uma preocupação no mercado relacionada com este tema, tentando encontrar diferentes formas de imputar os custos de transação.

No segundo caso da Blockchain privada, os nós da Blockchain são controlados por uma ou mais entidades, não tendo as transações um custo associado para além da manutenção da infraestrutura. Neste caso, qualquer tipo de interação com a Blockchain requer a atribuição de permissões, bem como a definição de roles. Esta natureza orientada a permissões não compromete de qualquer forma a segurança da Blockchain. Ainda assim faz sentido desenvolver estas soluções com atributos extraordinários de transparência e auditabilidade, tirando partido de algumas qualidades naturais desta tecnologia.

Ponderar a utilização de um modelo em detrimento de outro requer sempre que se defina em primeira mão a importância de vetores como o controlo de custos, necessidade de permissões e controlo da infraestrutura. Acredito que esta reflexão condiciona largamente o caminho a seguir, e dela resultam tipicamente modelos de negócio muito concretos. É aqui que se encontra alguma resistência por parte das organizações na adoção “real” desta tecnologia. Não é suficiente avançar para uma prova de conceito com uma ideia que faz sentido. É da maior importância analisar quais os problemas que terão de ser resolvidos independentemente de funcionalidades.

Utilização prática de Blockchain – José Camacho, IT Consultant, Xpand IT

Quando se fala de Blockchain, os casos de uso mais conhecidos surgem associados ao registo de transações financeiras (criptomoedas e tokens), permitindo imutabilidade dos dados, transparência das transações e descentralização (ausência de uma autoridade global). Apesar de ter sido criada com foco na transação de bens digitais, depressa se percebeu que existiam outros casos de uso onde as propriedades da tecnologia Blockchain são aplicáveis. Alguns exemplos deste uso são no caso da Cadeia de Valor e na Saúde e Assistência Médica.

Cadeia de Valor (Supply Chain)

Num mundo guiado pela tecnologia, o consumidor procura e decide com base na informação ao seu dispor. Ao registar no ledger distribuído cada evento da etapa que leva o produto desde a sua origem até ao ponto de venda, será possível mostrar ao consumidor de forma transparente informações tais como a origem dos produtos ou as condições do seu transporte.

Numa lógica de parceiros de negócio, a tecnologia Blockchain permite a atualização e validação em tempo real do estado dos bens, pelos diversos participantes da rede. Neste tipo de parcerias é também possível manter uma lógica de transferência de valores ou responsabilidades em relação ao bem.

A eliminação de fraudes e agilização dos processos são pontos fortes quando se compara uma solução baseada em Blockchain versus uma que se baseia em bases de dados centralizadas.

Saúde e Assistência Médica

Os pacientes mantêm por norma informação sobre o seu estado de saúde em diferentes serviços de saúde. É comum um médico de um hospital requerer acesso a informação de uma análise clínica ou de um exame médico que está associada ao sistema de informação de outro hospital, ou o paciente pretende mudar de serviço de saúde e passar o seu histórico para o novo serviço.

Alguns países como o Reino Unido e o Canadá permitem a troca de registos dos pacientes, porém de forma centralizada e não transparente. Ao associar o registo clínico de um paciente a uma Blockchain, é possível garantir a automação e controlo de acessos de informação pessoal pelos diferentes requerentes (hospitais, clínicas, seguradoras). Além disso, esta tecnologia permite uma redução de custos de auditoria e um aumento da transparência das suas transações.

São muitas as visões sobre Blockchain e as potencialidades práticas da utilização deste paradigma na sociedade. Esta é uma das apostas na área da inovação. O valor que Blockchain pode trazer quando associado a outras soluções tecnológicas, uma arquitetura globalizada, torna a aplicabilidade de Blockchain mais abrangente a novas soluções de negócio.

 Acreditamos que a Blockchain veio para ficar aplicada às necessidades reais da sociedade e este é, certamente, um dos caminhos tecnológicos em que a Xpand IT está a apostar.

Ana PaneiroBlockchain: o novo paradigma da sociedade

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